Mais uma vez os fatos provam que aqueles que defendem a greve estão certos!

Durante 2011, um grupo de estudantes passou todo aquele ano defendendo que a greve de 2010 havia sido interrompida e que precisaria voltar o mais breve possível, embora ela tenha trazido conquistas para a universidade, essas conquistas são insuficientes para solucionar as dificuldades. Entre os motivos de retomar a greve, esses alunos enfatizaram a urgência do prédio, alegando que sem ele poderia causar literalmente falta de salas de aula, devido às condições provisórias só agravarem a situação no lugar de resolverem, como um câncer que não se cura e somente se tenta aliviar a dor com “Tylenol”, uma forma absurdamente irresponsável de se lidar com problemas.

Dito e feito: em março de 2012 estudantes e professores sentiram falta de 6 salas de aula para a graduação de Ciências Sociais, para disfarçar esse caos, as primeiras “aulas” foram palestras no Anfiteatro, entre outras formas de a direção do campus e mais burocratas ganharem tempo para conseguirem ampliar o espaço para a comunidade acadêmica. Como se não bastasse faltar classes, todos os setores do campus tinham enormes filas cotidianas. A situação é tão gritante que já na primeira assembleia estudantil desse ano a greve passou e com uma plenária lotada.

Quanto mais problemas mais combativos são os movimentos de reivindicação. Assim, a greve durou pelo menos cinco meses, com muitos atos e duas ocupações da diretoria acadêmica, sendo a última com duração de treze dias e só acabou com a Tropa de Choque invadindo o campus. Um movimento que repercutiu, sem exagero, no Brasil e no mundo.

A assembleia do dia 23 de agosto de 2012 teve uma plenária com uma maioria de alunos que não participaram em nenhum dos mais 150 dias de mobilização no campus. Obviamente, o campus ficar lotado somente quando tem aulas, independente das condições dessas, e não ter o mesmo número nas mobilizações causa uma alienação em relação ao movimento estudantil e as reais condições da universidade, pois ninguém tem “bola de cristal”. E é lógico que quem participa da mobilização deve ser considerado exemplo e não culpado por aqueles que não comparecem. Os ausentes falarem que o movimento deve ser “mais assim ou mais assado” é agir como patrão que dita regras, mas não coloca a “mão na massa”.

Dessa forma, no dia 23 há a votação de fim de greve. Logo após essa assembleia, estudantes a favor e, ironicamente, contra a greve pegam o “Itaquerão”, umas das conquistas da greve de 2010. E na prática a greve continua, afinal não tem aulas, pois não há calendário acadêmico e nem rematrícula e ainda não tem onde colocar todo mundo, ou seja, ocorreu uma votação simbólica para aqueles que estão “de saco de cheio dessa greve”, o melhor argumento contra a greve.

Durante essa mesma assembleia, favoráveis à greve chegaram a falar que apesar do pedido de suspensão da licitação do prédio nos Pimentas ter sido negado pela reitoria, ainda não havia garantia da construção do prédio e também por isso era preciso continuar em greve. Mais uma vez dito e feito: no dia 27 de agosto de 2012, 4 dias após essa assembleia, os envelopes da licitação do prédio são abertos. Dentro de cada um desses envelopes deveria ter a proposta de cada empresa para a construção do prédio. Entretanto, nenhuma empresa apresentou proposta, como se todos os envelopes estivessem vazios, ou ainda, como se não existisse próxima etapa na licitação, ou melhor: não há previsão nenhuma para a construção do prédio!

 

 

 

Avaliação da pauta de reivindicação não atendida pela Reitoria

A pauta de reivindicações do Movimento, publicada desde o dia 25 de março de 2012, é clara:

“Tendo em vista que nossa Universidade parece ter criado a tradição de tornar definitivas todas as soluções provisórias, exigimos:

1. Conclusão do processo licitatório e início da construção do prédio central com acompanhamento de uma comissão paritária dos três setores (discentes, docentes e técnico-administrativos). Caso o processo licitatório não tenha êxito novamente, exigimos a apresentação de um plano emergencial a ser discutido pela comunidade acadêmica.”

Em 16 de agosto, o processo licitatório foi suspenso porque um grupo de docentes culpa o Pimentas pelos problemas de infraestrutura do campus e a má gestão da universidade.

Com toda certeza, essa confusão de achar que mudando de lugar se resolve os problemas não nasceu em 2012. O fato dos processos licitatórios que, há muito tempo são semelhantes aos do campus de São José dos Campos, só ter resultado em problemas indica que provavelmente veio à tona o que tem dificultado as licitações do prédio todos esses anos. Afinal, por que São José dos Campos tem encontrado menos entraves em suas construções? E como também denuncia a própria pauta “prédios, como o da reitoria, são construídos sem entraves burocráticos.”

Agora, em agosto, mais uma vez o processo licitatório não tem previsão de conclusão e os planos emergenciais indicam para o que tanto querem logo aqueles que por longos anos tem atrasado o prédio: tirar o campus dos Pimentas. Pois as opções como a Stifell e o galpão em frente ao CEU, além de serem insuficientes, mesmo em curto prazo, para atender toda a comunidade acadêmica, ambos não têm condições para um ambiente universitário: o primeiro, não tem nenhum sistema de ventilação e o segundo, ainda não tem um laudo técnico que de fato comprove que o espaço possa ser utilizado para fins acadêmicos.

Ainda acompanhando a pauta, sobre a moradia universitária só há promessas da PRAE para aquisição de um terreno na Estrada do Caminho Velho.

Quanto à creche, a direção acadêmica e a PRAE não falam a mesma língua, havendo desencontro de informações e sempre no gerúndio “vamos estar fazendo”.

Irônico afirmar isso, mas a nossa pauta pede “ampliação do bandejão”. Entretanto, após ocupação dos estudantes de grande parte do campus, inclusive do bandejão, descobrimos porque tinham estudantes que passavam mal após as refeições, foi divulgado no blog da greve o vídeo das condições insalubres do que era para ser um restaurante universitário. O resultado é que hoje não temos bandejão, muito menos ampliado.

A ampliação dos laboratórios de informática e da xérox e a aquisição de laboratórios de língua também não foram realizados.

Para suprir as necessidades de transporte, a reitoria apresentou a proposta da Ponte Orca, prometendo que já iria começar a funcionar na semana seguinte a da negociação (final do mês de junho). Em primeiro lugar, como todos sabem, não há nenhum sistema de ponte orca funcionando na Unifesp Pimentas. Em segundo, esse projeto de transporte atenderia somente aos alunos da Unifesp. Apesar de na USP ter funcionado por anos um sistema orca que atendia a população além da sua comunidade acadêmica. Os estudantes da Unifesp na negociação foram bem claros com a reitoria que qualquer negociação é baseada na pauta e quanto a esse ponto a pauta reivindica também:

“Efetivação das negociações com as Secretarias de Transporte de Guarulhos e de São Paulo, prometidas desde a greve de 2010, para implantação de novas linhas regulares, que partam de diferentes estações de metrô, atendendo à demanda da região.”

O auxílio permanência continua não atendendo a todos que precisam, com o valor ainda insuficiente e os o número de funcionários do NAE para atender a comunidade acadêmica ainda é muito reduzido.

No ponto repressão, o documento de reivindicações pede “retirada dos processos criminais contra os 48 estudantes da Polícia Federal, e de qualquer instância jurídica, e fim dos processos administrativos contra o movimento estudantil.” Como todos sabem essas perseguições políticas triplicaram dentro da universidade, como tentativa da burocracia acadêmica impedir que os estudantes lutem pelos seus direitos e decidam sobre o espaço que circulam diariamente por anos.

Por fim, na pauta transparência, entre outros pontos, os estudantes reivindicam paridade nos órgãos colegiados da universidade e no CONSU. Esta é mais uma reivindicação que a Reitoria negou. Foi reivindicado também “revisão do Estatuto que rege a Unifesp, de forma a prever maior democratização da instituição.” Importante lembrar que o atual estatuto da Unifesp foi minimamente modificado em relação ao Estatuto da Época da ditadura militar. Os estudantes aguardam a alteração desse documento. O Estatuto fundamentalmente expressa os interesses da minoria burocrática dentro da Universidade.

Carta aos moradores: pela permanência da Unifesp no Bairro dos Pimentas Para fora dos muros, a Universidade é de todo mundo

Nem todos sabem, mas existe uma universidade federal no Bairro dos Pimentas, a Unifesp, a qual tem o nome de Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Trata-se do Campus de Humanidades da Universidade Federal de São Paulo. A UNIFESP é muito conhecida pela tradição dos seus cursos na área da saúde e pelo curso de medicina, o primeiro a ser oferecido pela instituição.

E bem verdade que a Unifesp de Guarulhos ficou mais conhecida após a greve estudantil iniciada em 22 de março de 2012 por melhores condições de estudo. Sobretudo, o movimento estudantil está lutando em defesa do ensino público. Os acontecimentos (passeatas no bairro, invasão da Universidade pela polícia militar etc.), projetaram a mobilização para fora dos muros ganhando apoio dos moradores da região do bairro operário construído por muitos trabalhadores.

Há quatro meses atrás, em assembleia com mais de 1.300 estudantes discutimos e aprovamos por ampla maioria a permanência desta Escola no Pimentas. O debate de saída do campus da UNIFESP resurgiu quando em 25 de julho uma parcela de professores da instituição apresentou à Reitoria a proposta de saída da Universidade dos Pimentas para São Paulo. O documento com a proposta foi chamado de “Dossiê sobre a crise da Escola de Humanidades da EFLCH e sua permanência no Bairro dos Pimentas”. O texto debate muitas questões de forma equivocada e preconceituosa, sem consultar a comunidade universitária (estudantes, funcionários e todos os professores).

Tornou-se necessária a participação dos moradores no debate sobre a permanência da Unifesp no Bairro dos Pimentas, porque o campus é uma reivindicação de movimentos sociais da região, que exigiram anos atrás uma universidade pública, reivindicação esta que supera o oportunismo eleitoral feito em torno da criação da Universidade, explicitando a importância da organização da juventude e dos trabalhadores em movimentos sociais.

Embora exista uma universidade pública, há ainda o problema do acesso à universidade. O ENEM continua sendo um vestibular que mudou de nome. A maioria dos filhos dos trabalhadores está excluída do ensino superior, mesmo com uma universidade do lado de casa. Trata-se de um fenômeno social de todo o País que não conseguiu universalizar o ensino em todos os níveis. A cada dia que passa a ideia do ensino como mercadoria é reforçada, ou seja, quem tem dinheiro estuda, quem não tem dinheiro para pagar pelo ensino está excluído.

Por isso, o fim dos vestibulares e a universalização do ensino são bandeiras históricas e pendentes do movimento estudantil e movimentos sociais que as conquistará por meio da aliança operária e estudantil, juntamente com todos os trabalhadores exigindo do Estado a garantia dos direitos democráticos, que só serão conquistados com luta como nos ensina a história.

Temos a certeza que a localização no Bairro dos Pimentas não impede que a Universidade se desenvolva, a ausência de investimentos é o problema central da política do polêmico Projeto Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidade Federais) que criou vagas no ensino superior e novos campi sem verbas suficientes. É preciso ressaltar que o problema não é a expansão e inclusão no ensino superior, o problema é a expansão sem verbas suficientes. Esse é um dos questionamentos do movimento estudantil, inclusive nacional, ao Programa Reuni oficializado em 2007.

Acreditamos que a Unifesp pode cumprir seu papel formador, social, cultural e educacional no Bairro dos Pimentas. Por fim, faz-se necessário dizer ainda que estudantes nesta Universidade sofrem processos administrativos e judiciais por defenderem com convicção a universidade pública e as melhores condições para estudar, não só para eles, mas também para os moradores e as futuras gerações que virão.